A jornada do herói e o ventre da baleia
A jornada do Herói e o ventre da baleia na música da Lítera, Barriga da Baleia, do novo álbum.
Nas profundidades insondáveis dos abismos mais profundos, é possível descobrir que se esconde uma promessa insuspeita. Pois todo fim parece esconder a semente de um novo começo.
– Jung
Pode parecer que não, mas a história dessa música começou há 4 mil anos, quando o homem começou a perseguir as grandes baleias. Tanto no conto bíblico de Jonas na Barriga da Baleia, assim como em Moby Dick, podemos observar a relação entre o homem, a baleia e o mar.
O romance Moby Dick começa com a frase: “Chamai-me Ismael.” Segue-se a narrativa em primeira pessoa do marinheiro Ismael (seu nome completo nunca é mencionado), um professor rural de uma família tradicional que decide “velejar um pouco e ver a parte aquosa do mundo” para fugir de sua melancolia.
Ismael já trabalhou como marinheiro em navios mercantes, mas agora quer viajar num baleeiro e conhecer as baleias. “Um monstro tão prodigioso e cheio de mistério despertava toda a minha curiosidade”. Desde então comecei a pesquisar e tentar entender esse mistério do homem e seu inconsciente profundo com o mar e os monstros que o habitam.
Barriga da baleia
Assim como um ventilador de teto
que sopra vento quente às 3 da manhã
me arrumo devagar – elegantemente atrasado
a festa era às dez e meio que despilhei
A gente sabe que no auge do verão, o ventilador mais potente não consegue esfriar o ar, fica só soprando vento quente. Durante a madrugada, isso torna impossível o simples ato de dormir. É nessa hora que a gente se obriga a fazer algo que não quer. Esse se sentir “obrigado a fazer algo” vai se explicar mais adiante na letra.
De repente a baleia me devolve ao mar
Embalado a vácuo e pronto pra consumir
baleia (mitologia) … Enquanto divindade, a baleia é um símbolo de renascimento associada ao fato de ser também um suporte do mundo. Em muitas tradições, existe um mito iniciático de passagem pelo ventre da baleia como uma espécie de renovação espiritual ou metafísica.
Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. [Jonas 2:3]
Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, fundador da psicologia analítica.
A baleia é um símbolo do inconsciente
Quando, na Bíblia, lemos que Jonas foi engolido pela baleia e lá (na barriga da baleia) permaneceu durante três dias e três noites – números também profundamente simbólicos –, é necessário compreender a metáfora. Três dias e três noites no ventre da baleia é a imagem que simboliza um profundo mergulho no inconsciente. Jonas, no relato bíblico, tentara fugir da luz. Como consequência, mergulhou no sombrio fundo do oceano e no ainda mais sombrio ventre da baleia. O azul é uma cor misteriosa. No céu claro, parece a cor da vida. Mas frequentemente é associada à tristeza e à morte. No mundo da informática, fala-se na “tela azul da morte” para fazer referência a um grave erro de sistemas operacionais. Em inglês, quem está profundamente triste diz que está se sentindo blue, azul, o que dá nome a um estilo musical.
A baleia azul é uma imagem que une esses dois pontos. Simboliza o profundo inconsciente humano, aonde nenhuma luz pode chegar. E simboliza também a tristeza absoluta, onde não há qualquer alegria. É uma forte imagem que se aplica a quem se vê em estado depressivo: um mergulho profundo no inconsciente sem qualquer alegria, qualquer luz, qualquer ânimo.
Curiosamente, as teorias de Carl Jung nos ensinam que os abismos profundos escondem silenciosas promessas de gloriosas redenções. O inconsciente traz tesouros ocultos, Jung diz.
O que significa “afudê”?
Pra viver de repente! Afudê pra sempre!
De quem sempre esteve até aqui e quem vai até o fim sem saber
A jornada do herói no monomito às vezes chamado de “Jornada do Herói” é um conceito de jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell. Afudê é uma gíria ou expressão apenas conhecida e usada no Rio Grande do Sul pra dizer que uma coisa é única e exclusivamente muito legal. Algo que é incrível.
De repente bacalhau nunca foi um peixe
O que entra e sai nem vai, nem volta
Aqui é um paradigma que já apareceu em outra música desse mesmo disco sobre o que a gente sempre pensou que sabia mas nunca investigou a fundo e se surpreende com a verdade. Prova de que somos facilmente enganados ao passo que também nos sentimos bem com meias verdades.
Egocêntrico, eu fico mudo quando faço merda
Higienizado com álcool gel de buffet
Quem almoça na rua sabe que os restaurantes de buffet tem na porta aqueles potinhos de álcool gel, pra que a pessoa faça sua higiene antes de se servir. Mas é uma higiene superficial e a gente sabe disso. Reforçamos comportamentos pro nosso ego, pois sabemos que não tem o efeito devido, mas ignoramos. A metáfora aqui são os efeitos morais e as atitudes que praticamos apenas para declarar algo como feito, como se de fato estivéssemos fazendo algo e atingindo um resultado efetivo.
Inspirado em Leminski
Ah, tem disso! Hérnia de disco, tendinite ou bursite aguda
Nada é tão meu que não posso dizer nosso
A primeira frase desse verso fala sobre as dores psicossomáticas. A dor é o sinal que o corpo fornece para avisar que algo não está certo, esse fenômeno é chamado de dor somática ou psicológica. Na segunda frase “Nada é tão meu que não posso dizer nosso” é uma frase tirada e adaptada do poema do Paulo Leminski:
Nada tão comum
que não possa chama-lo
meu
Nada tão meu
que não possa dizê-lo
nosso
Nada tão mole
que não possa dizê-lo
osso
Nada tão duro
que não possa dizer
posso
Pra viver de repente! Afudê pra sempre!
De quem sempre esteve aqui e quem vai até o fim sem saber / por mim
Desde o final dos anos 1960, com o advento do pós-estruturalismo, teorias como as do monomito (que são dependentes de abordagens baseadas no estruturalismo) perderam terreno nos círculos acadêmicos. Este padrão da “jornada do herói” ainda é influente entre artistas e intelectuais, assim como é evidente a importância e validade dos modelos (arquétipos) psicológicos freudiano e especialmente junguiano.
Na jornada do herói
O passo 6 dos 12 Estágios da Jornada do Herói é de Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia – o herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
É isso, espero ter conseguido passar um pouco do significado e símbolos dessa letra, pelo menos aqueles que eu mesmo consigo interpretar do meu inconsciente, talvez tudo mude. Ainda bem.
André Neto,
Porto Alegre, Outono de abril, dia 19 de 2019.
Lançando o álbum Arquétipos – O encontro com a sombra
São 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, codificador da psicologia analítica. As composições falam sobre arquétipos, signos, símbolos e o encontro com as nossas sombras. Traçam a jornada do anti-herói no cotidiano, o inconsciente coletivo e a busca de si mesmo. Isso não é um conceito. É um enigma.
Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, fundador da psicologia analítica.
Nossas músicas estão em todas as plataformas pra ouvir grátis.
Escolha a sua preferida, clicando aqui: https://litera.lnk.to/5CSbI
• Instagram: http://instagram.com/literaoficial
• Facebook: http://www.facebook.com/literaoficial
Escute Lítera!
Spotify: https://goo.gl/SYHpeJ
Deezer: http://goo.gl/LLQozT
Google Play: https://goo.gl/mEFjS1
iTunes: https://goo.gl/0svot6
Assista: Vc já viveu um amor impossível? ↴
https://goo.gl/dpzCmy
Assista: Bercy ↴
https://goo.gl/fzktXg
Assista: Domitila ↴
https://goo.gl/U0sm8