Absolon, o começo e o primeiro recomeço
Absolon, o começo e o primeiro recomeço. Na época da Absolon, lembro que a gente só tinha 3 músicas. Mesmo assim a gente se encontrava todo final de semana pra ensaiar elas repetidamente.
No começo era na garagem do Álvaro, apenas com violões. Foi assim por muito tempo, depois começamos a revezar entre o estúdio Guedes no Sarandi e a garagem da casa da vó do Rodrigo no Humaitá, bairro industrial, afastado e meio deserto. Durante a semana o lugar era super agitado com o fluxo de funcionários das indústrias, já nos finais de semana não tinha uma viva alma. O silêncio no bairro era tamanho que quando um de nós chegava atrasado, ouvia da estação de trem o som da banda tocando a muitas quadras de distância.
Parecia impossível, mas conseguimos montar um repertório de músicas próprias com oito canções e uma versão para “Cartas aos missionários” da banda Uns e Outros. E assim fizemos o primeiro show num festival no Clube Comercial de Sapucaia, cidade satélite de Porto Alegre.
As músicas tinham nomes estranhos, nosso baixista insistia que tínhamos que ser uma banda “triste”, que o nosso som era deprê. Não sei da onde ele tirou isso, mas nosso repertório era: “Conspiração em segredo”, “Adolescente”, “Bungee Jump Presidente”, “A escuridão”, “Se eu fosse a verdade, não estaria mentindo”, “Museu de horror (Museu)”, “Esgoto”, “O Sol além do horizonte”. E covers: “Cartas aos Missionários”, dos Uns e Outros, e “Não Serve Pra Mim”, do Roberto Carlos.
Ainda assim, eu sentia que não era aquilo, não era a banda ideal pra dizer as coisas que eu precisava dizer. Não daquela maneira. A Absolon era pesada demais, o instrumental não dava espaço para as métricas, não eram canções feitas pro cantor, e sim para a banda tocar. Todo mundo tocava bem, menos eu. Ainda estava aprendendo a tocar as primeiras músicas.
Tocar violão me ajuda até hoje nas composições, então eu fazia o suficiente pra dar melodia no que eu queria e poder mostrar pros guris. Mas as minhas letras passavam por crises, eram pesadas e confusas, com metáforas complicadas demais e excessos de melancolia que nem sei se sentia tanto assim. Eu queria muitas vezes me parecer com os meus ídolos, copiava eles, ainda não tinha encontrado o meu método de escrever.
A banda começou a participar de festivais pela cidade e um deles foi tipo a nossa “consagração”, quando fomos premiados com o melhor instrumental do evento com a música “Conspiração em Segredo”, no Festival de Música do Colégio São Francisco. Foi a primeira vez que tocamos pra um grande público e então a zona norte da cidade ficou sabendo que a gente existia. Pelos menos era o que a gente gostava de pensar.
Mas lá dentro alguma coisa gritava que eu precisava virar a chave. Então, depois do Festival de Música de Porto Alegre, em que tocamos pra quase 5 mil pessoas, decidi sair da banda. Montei um outro grupo. Senti a necessidade de ter mais liberdade pra fazer rock com poesia, como fazia o The Doors, banda do Jim Morrison, do qual tinha me tornado muito fã. Queria compor e tocar músicas sem gênero, sem compromisso com um estilo, mas com atitude rock. Esse era o início do meu primeiro recomeço.