As diferenças entre as teorias de Freud e Jung
As diferenças entre as teorias de Freud e Jung. Através da análise de centenas de cartas trocadas por Freud e Jung, pode-se inferir que eles criaram uma relação paternal.
Jung tinha várias características para ser o filho ideal, herdeiro e divulgador da obra de Freud, que inclusive escreveu em 1909: “(…) na noite em que eu o adotei como filho mais velho (…), como meu sucessor e príncipe coroado(…)” (Carta 139, Freud).
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Enquanto Freud, aos 50 anos (quase vinte anos mais velho que Jung), já havia construído os pilares de sua obra. Por outro lado, Jung, aos 31 anos, estava apenas começando a sua grande carreira.
Abordagem extremamente importante no campo da Psicologia, Freud foi o criador da psicanálise. Ele iniciou seus estudos através da utilização da técnica da hipnose, como via de acesso aos conteúdos mentais, predominantemente aproximando-se de pacientes com histeria. Elaborou a hipótese de que a causa da histeria seria de origem psicológica – e não orgânica, como havia sido estudado na época. Além disso, Freud desenvolveu inúmeras outras teorias, como a dos mecanismos de defesa, sonhos, sexualidade, personalidade, complexo de édipo.
O jovem Jung era contemporâneo de Freud e conheceu o pensamento do pai da psicanálise, muito controverso na época. Supõe-se que o primeiro contato com as obras freudianas se deu através da leitura de Interpretação dos Sonhos (1900), na qual Freud expõe a sua teoria acerca do mundo onírico. Entretanto, o encontro pessoal entre eles – que dizem ter durado treze horas — em 1907, marcou o início de uma relação estreita e de muita parceria, que resistiu até 1913.
Natureza sexual da libido
Entretanto, divergências entre os dois começaram a surgir e se acentuar. Em 1913, houve uma separação abrupta, sem qualquer integração de suas diferenças. É evidente que a discordância quanto à natureza sexual da libido – teoria elaborada por Freud, da qual nunca abriu mão – foi o ponto teórico central da ruptura entre eles. E, apesar das semelhanças e aproximações entre as teorias de ambos, muitos desacordos teóricos de fato permeavam as respectivas obras e pensamentos.
O inconsciente em duas camadas: a individual e a coletiva
É muito importante destacar a diferença que eles atribuíam ao inconsciente. Enquanto Freud acreditava que este consistia em um depósito de conteúdos reprimidos, se limitando ao âmbito pessoal, Jung enxergava o inconsciente em duas camadas: a individual e a coletiva. O inconsciente pessoal consiste na individualidade psíquica onde é mantida toda a experiência pessoal e, o inconsciente coletivo, como uma área mais profunda da mente e pertencente a todos. Esta camada teria as imagens primordiais denominadas por Jung como arquétipos, herdados da humanidade.
A finalidade do sonho
Essa diferença entre a concepção acerca do inconsciente é fundamental para entender as divergências entre os dois gênios. Isso se estende ao que se refere na compreensão deles acerca da interpretação dos sonhos, por exemplo. De forma extremamente reduzida, para Freud, a finalidade do sonho seria concretizar um desejo reprimido, enquanto que, para Jung, este se expressa simbolicamente como uma tentativa da psique de se autorregular, tendo em vista o mecanismo compensatório do sonho. Além disso, vale ressaltar também a diferença que ambos estabeleciam acerca dos processos mentais. Enquanto Jung acreditava nesses como dinâmicos e relativos, Freud enxergava-os como fatores estáticos.
Conceito de arquétipo
A maior resistência da psicanálise à teoria junguiana centralizou-se no conceito de arquétipo – vale apontar aqui que nenhum psicanalista nega inúmeras funções psíquicas teorizadas por Freud como pertencentes de todos os seres humanos ou presentes em qualquer cultura, o que as caracterizariam como arquetípicas. A psicanálise não amplia a sua técnica ultrapassando a “cura pela fala”, não se apoia em técnicas expressivas, muito importantes na psicologia analítica e em inúmeras outras escolas da psicoterapia.
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Apesar dessas e outras divergências entre as teorias freudiana e junguiana, deve-se seguir os conselhos de Byington e evitar acreditar que cada uma das teorias seja auto-suficiente e possa se desvincular das posições teóricas da outra. Muitas características de suas obras foram mantidas separadas, apesar das inegáveis semelhanças entre elas.
Jung e Freud: Opostos ou Complementares?
Jung, ao lado de Freud, foi um dos precursores da Psicologia Profunda, mostrando que a psique se estende muito além da consciência. Jung fez alguns experimentos de associação de palavras e, a partir deles, introduziu a noção de complexo, palavra hoje popularizada.
Ele percebeu que, diante de determinadas palavras indutoras, surgiam reações diferentes e a pessoa, por exemplo, tinha um tempo de reação mais longo, ou gaguejava, ou empalidecia, enfim, saía de seu padrão de reação. Jung percebeu que os estímulos que provocavam estas reações estavam associados com situações, vivências e emoções que a pessoa não conseguira integrar em sua consciência. A esses conteúdos deu o nome de complexo.
Jung propôs que o trabalho analítico ocorresse frente a frente, que paciente e terapeuta sentassem um diante do outro, incluindo com isso a presença das reações emocionais do terapeuta. A ideia de o terapeuta ser uma página em branco é deixada de lado e a presença objetiva do terapeuta, e de seu mundo subjetivo, passam a ser considerados importantes para o paciente.
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A ideia de que o terapeuta é a pessoa saudável e que tudo sabe, e que o paciente é o doente e inconsciente, também é revista, pois, embora o papel do terapeuta seja distinto daquele do paciente, ambos têm luz e sombra, o que permite o estabelecimento de uma relação mais simétrica entre eles.
Ao introduzir a noção de libido como energia psíquica, Jung amplia o conceito de libido proposto por Freud, retirando dele a conotação exclusiva de sexualidade. Isto abre a porta para a ideia de individuação, da busca de autorrealização, como um impulso inerente a todos os seres humanos, assim como a espiritualidade, a criatividade, a vocação, etc.
Com a ideia de arquétipo, também introduzida por Jung na Psicologia, temos a consciência de que possuímos uma base universal, um tipo de funcionamento que é próprio da nossa espécie, e que está no fundamento de nossos instintos, de nossas reações, emoções, de nosso modo de ser. Jung atribui aos arquétipos a expressão do inconsciente coletivo, mas é importante ressaltar que hoje se sabe que a consciência também é arquetípica, pois não existe vivência humana, por mais particular e única que seja, que não esteja alicerçada em uma experiência humana universal.
Jung e Freud: Complementares
O pensamento de Freud e Jung são complementares no que tange ao estudo do desenvolvimento da personalidade. Enquanto Freud deu muita importância à formação do Ego na infância, Jung dedicou-se mais ao desenvolvimento da personalidade na vida adulta, enfatizando sobretudo o processo de individuação na segunda metade da vida.
Freud, porém, considera central para a formação da personalidade o desenvolvimento da sexualidade, ao passo que Jung considera a sexualidade um aspecto da vida, sem dar a ela importância fundamental.
Freud também vai se preocupar com as causas de um sintoma, chegando a crer que, se as causas fossem descobertas, os sintomas se extinguiriam. Jung aponta a importância prospectiva de um símbolo, e assim introduz uma visão finalista nos símbolos. Com isso, importância é dada não apenas ao “por que” surge um sintoma, mas também ao “para que” ele emergiu.
Outro ponto a ser destacado é o das ideias de Freud e de Jung que dizem respeito à noção de símbolo. Como para Freud o centro de sua Psicologia era a sexualidade e o Complexo de Édipo, ele via, por exemplo, nos símbolos oníricos, disfarces que encobririam aspectos ligados à sexualidade e ao Complexo de Édipo. Para Jung, um símbolo nunca possuía um único significado, e nem uma interpretação fixa. Ele também não via as expressões oníricas como disfarce, acreditando que a psique se expressa numa linguagem arcaica e simbólica. Ao invés de atribuir aos símbolos significados fixos, Jung considera que eles são a melhor expressão para aquilo que é pressentido e ainda não sabido.
A ideia do inconsciente
A ideia do inconsciente, para Freud, associa-se a algo que surge na vida pessoal e que estaria composto de material esquecido, reprimido, negado, fixado, bem como de conteúdos traumáticos. Jung, por sua vez, atribui ao inconsciente um caráter também criativo, capaz de trazer à consciência conteúdos não apenas associados a experiências individuais, mas coletivas, impessoais, universais. Também nesse aspecto podemos considerar complementares as visões de Freud e de Jung.
Como já foi mencionado, Freud fundamentou sua teoria na sexualidade. Assim sendo, era natural que outras dimensões psíquicas não fossem consideradas por ele como genuínas, mas como uma derivação – seja por regressão, negação, fixação, sublimação ou outros mecanismos de defesa – da sexualidade. Assim, a espiritualidade entrou como algo, por assim dizer, ilegítimo, neurótico e doente. Freud chega a repudiar o interesse de Jung pelos chamados fenômenos ocultos, temendo que isso lançasse a psicanálise na lama do ocultismo. Nesta época, Freud e Jung ainda se relacionavam.
A relação pessoal de dois gênios
A relação entre Freud e Jung foi marcada pela personalidade genial de cada um deles e também pela dificuldade de lidarem com seus complexos. Freud, 19 anos mais velho, e fixado, pessoal e teoricamente no Complexo de Édipo, colocava-se no lugar do pai e exigia de Jung uma aceitação irrestrita a suas ideias, imputando obsessivamente a ele uma atitude parricida a cada discordância. Jung, por outro lado, tinha também um complexo paterno negativo. Seu pai recusara-se a refletir sobre o dogma da Trindade, afirmando que um dogma não é para ser discutido nem compreendido pela razão. Com isso, Jung ficava indignado, revoltado e com aversão a um “pai” (Freud) que exigia obediência cega, sem abertura para a reflexão e para a dimensão simbólica.
Jung desejava ter com Freud um relacionamento simétrico, em que os dois se abrissem para a verdade e o estudo dos símbolos. Freud preferia um relacionamento em que ele permanecesse como figura de autoridade e desse sempre a última palavra. Precisamos perceber que estes dois gênios que criaram a Psicologia Profunda não puderam usufruir de suas próprias descobertas, pois não tiveram analistas. Com isto, impedidos pelas circunstâncias de fazerem uma análise pessoal, projetaram um no outro seus complexos, o que os levou a uma ruptura trágica e irreversível, tanto no âmbito científico como pessoal.
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Só podemos lastimar este desfecho, pois esta separação, ocorrida em 1913, feriu tão profundamente a Psicologia Moderna que somente agora, mais de 100 anos depois, ela começa a se recuperar graças à Psicologia Simbólica Junguiana, de Byington, que propõe conjugar a Psicanálise e a Psicologia Analítica. Esta proposta de síntese entre as duas escolas contempla o desenvolvimento da formação do Ego na infância e sua patologia (Freud) coordenado pelos arquétipos (Jung) e o desenvolvimento da personalidade na segunda metade da vida, com a busca de autorrealização (Jung), ambos inseridos no processo de individuação.
O que é inconsciente? E por que é como um iceberg? O que é inconsciente para Freud?
Na teoria psicanalítica da personalidade de Freud, a mente inconsciente é um reservatório de sentimentos, pensamentos, impulsos e memórias que está fora da nossa consciência. A maior parte dos conteúdos do inconsciente são inaceitáveis ou desagradáveis, tais como sensações de dor, ansiedade ou conflito. De acordo com Freud, o inconsciente continua a influenciar o nosso comportamento e experiência, mesmo que nós não tenhamos conhecimento dessas influências subjacentes.
A mente inconsciente é freqüentemente representada como um iceberg. Tudo acima da água representa o consciente, enquanto tudo abaixo da água representa o inconsciente.
Desejos e emoções
Freud acreditava que muitos dos nossos sentimentos, desejos e emoções são reprimidos ou mantidos fora da consciência. Por quê? Por que, sugeriu, eles eram simplesmente ameaçadores. Freud acreditava que, por vezes, esses desejos ocultos se davam a conhecer através de sonhos e lapsos de linguagem (os atos falhos ou “lapsos freudianos“).
Freud também acreditava que ele poderia trazer esses sentimentos inconscientes à consciência através do uso de uma técnica chamada de livre associação.
Ele pediu a pacientes para relaxarem e dizerem o que vinha à mente, sem qualquer consideração sobre quão trivial, irrelevante ou embaraçoso poderia ser. Ao traçar essas correntes de pensamento, Freud acreditava que ele poderia descobrir o conteúdo da mente inconsciente, onde desejos reprimidos e memórias dolorosas de infância estavam.
Como Jung define o inconsciente
A ideia de Jung sobre o inconsciente coletivo foi o principal ponto de divergência em relação aos estudos do pai da psicanálise, o que deu origem à vertente junguiana – a psicologia analítica. Jung buscou expandir a concepção de inconsciente proposta por Freud com essa área que seria responsável por armazenar as experiências que iriam além das vivências individuais da pessoa.
Inconsciente coletivo
A partir dessa teoria, é possível explicar algumas situações em que trabalhos artísticos ou descobertas científicas se complementem sem o compartilhamento de determinadas técnicas ou informações, ou seja, por meio da conexão entre inconscientes individuais.
Além do coletivo, Jung também traz às suas teses o inconsciente pessoal, uma área onde estaria tudo que não se liga ao ego, ou seja, o que foi rejeitado pela parte consciente. “O inconsciente pessoal é representado pelos sentimentos e ideias reprimidas desenvolvidas durante a vida de um indivíduo”.
Lançando o álbum Arquétipos – O encontro com a sombra
São 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, codificador da psicologia analítica. As composições falam sobre arquétipos, signos, símbolos e o encontro com as nossas sombras. Traçam a jornada do anti-herói no cotidiano, o inconsciente coletivo e a busca de si mesmo. Isso não é um conceito. É um enigma.
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