Café com a Marquesa de Santos e o quarto…
Caminhando numa tarde de outono em Porto Alegre, parei pra tomar café num lugar chamado Domitila, que já não existe mais. Lá, as pessoas eram recebidas com pétalas de rosas e lembro que tinha uma tortinha de banana com doce de leite que eu comia chorando. No cardápio estavam as cartas trocadas entre o imperador D. Pedro I e a Marquesa de Santos, a Domitila.
Aquela experiência era o que eu buscava e na semana seguinte escrevi a música que virou o nosso novo single “Domitila”. Lançamos em 2012 de forma colaborativa em um dos primeiros crowdfunding de Porto Alegre.
No ano seguinte, decidimos fazer um disco dividido em 3 partes, que fosse popular sem perder a nossa essência. Não tivemos dúvidas: o nome do produtor Marcelo Fruet era o mais certo para aquela obra e assim foi. Ele já tinha produzido Domitila, já existia química entre nós. Agora, era mão na massa! Começava ali uma nova grande etapa. Em seguida, gravamos o EP 1 A Marquesa e fizemos a primeira turnê em São Paulo e Minas Gerais, com shows em circuitos alternativos e pequenos festivais no interior dos estados. Foram 14 shows em um mês. Na volta, a banda já era outra. Um grande crescimento aconteceu. Na carreira, no pessoal e no público.
O momento exigia uma novidade, ser diferente. Lançamos o clipe de “Domitila” com uma estética inédita no Brasil, usando Tracking 3D e efeitos visuais e, ainda assim, falando de algo histórico. Começamos a ganhar mais notoriedade e era momento de experimentar, se desprender da formação clássica guitarra-baixo-bateria. Foi assim que o pianista Fernando Spillari se tornou o músico que acompanhava a banda em alguns shows.
PARTIDAS E CHEGADAS
Estava tudo dando certo! Até que, entrando pra gravação do EP 2 O Imperador, durante a produção, o Lucas anunciou sua saída. Ele precisava dedicar mais tempo à sua produtora de filmes. Ele faria o show de lançamento como despedida. O show foi no Teatro Renascença em Porto Alegre, casa cheia. Lindo e triste. Foi uma saída amigável, mas dolorosa. No tempo certo, pois tínhamos o substituto natural. O James era nosso fã, tinha feito a turnê do ano anterior com a gente e estava aguardando uma oportunidade.
Enquanto nos preparávamos para começar a produção do disco e finalizar a terceira parte da saga, mais um soco: o Thiago também anuncia sua saída. A Lítera novamente entrava no estúdio com um dos integrantes deixando o grupo. Como consolo, sua saída também foi amigável, mas muito dolorosa. Era um amigo de longa data que estava nos deixando. Perdi ali um grande companheiro de composição. Eu acho que no fundo eu entendia o pq dele ter saído, e não o culpava por isso. Já não tínhamos mais compatibilidade sonora e também era difícil ter um emprego formal, trabalhar na banda e suportar a pressão de família e amigos. Lógico que dói. Doeu, mas tinha que seguir. Tínhamos as músicas, era a reta final daquele projeto que estava bem sucedido. O melhor momento da banda, não poderíamos parar ali. E não paramos.
(André)