Jung sobre a psique e a morte: “Não estamos…
Existe a morte? Seria a morte uma ilusão, ou é como se ela fosse apenas uma viagem?
NOVO ÁLBUM DA LÍTERA
Ouça agora Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung:
Sim, hoje vamos falar sobre a morte, e a canção do disco Arquétipos que trata desse tema é Mecânica do Amor, que narra as últimas horas da vida de uma pessoa. No caso dessa canção, meu avô. Ele era conhecido como “Seu André” e nós temos o mesmo nome, o que quer dizer que ele me fez ser o André Neto. Trabalhei na oficina mecânica dele, que fica lá no Sarandi, na Vila Leão, onde todos as ruas tem nomes indígenas. Por curiosidade, meu vô batizou a oficina de Cacique. Nunca saberei o porquê dessa escolha.
Jung sobre a psique e a morte: “Não estamos exatamente certos sobre esse fim”
Entrevista com Jung
Em uma entrevista sobre a morte dada à BBC em 1959, Jung fala sobre o seu ponto de vista, que acabou me inspirando. Leia abaixo trechos dessa entrevista.
P: Me lembro que você disse que a morte é psicologicamente tão importante quanto o nascimento. E como ela é parte integral da vida, mas, de verdade, não pode ser como o nascimento se é ela é um fim, pode?
Carl Jung: Sim, se ela for um fim. E ainda não estamos exatamente certos desse fim. Porque, veja, há essas faculdades peculiares da psique que não estão inteiramente confinadas ao tempo e ao espaço. Você pode ter sonhos e visões do futuro, pode enxergar além das esquinas, e essas coisas. Só os ignorantes negam esses fatos. É bem evidente que existem e que sempre existiram.
Esses fatos mostram que a psique, em partes pelo menos, não depende desses confinamentos. E então o que? Quando a psique não está sob essa obrigação, de viver somente no tempo e no espaço, e obviamente não está. Então, até esse ponto, a psíque não está subjugada, a essas regras. E isso significa praticamente continuação da vida, uma espécie de existência física, além do tempo e do espaço.
P: Você mesmo acredita que a morte é provavelmente o fim de tudo? Ou você acredita…
Jung: Bem, não posso dizer. Veja, a palavra “acreditar” é uma coisa difícil para mim. Eu não “acredito”, tenho que ter uma razão… para certas hipóteses. Uma vez que sei algo, e então sei, não preciso acreditar. E se… eu não me permito, por exemplo, acreditar nas coisas só por acreditar. Não consigo acreditar. Mas quando há suficientes razões para certa hipótese, devo aceitar essas razões, naturalmente. Devo dizer que devemos reconhecer a possibilidade disso.
P: Bem, você nos disse que devemos considerar a morte como um objetivo.
Jung: Sim…
P: … e fugir dela é esquivar-se da vida e de seus propósitos.
Jung: Sim…
P: Que conselho você daria às pessoas, para que mais tarde na vida possam fazer isso, quando a maioria delas na verdade acredita que a morte é o fim de tudo?
Jung: Bem, veja, eu tratei muita gente idosa. É muito interessante observar o que a consciência delas está fazendo com o fato que estão aparentemente ameaçadas por um fim completo. Este fato é desconsiderado. A vida se comporta como se fosse continuar. Então acho que é melhor para as pessoas idosas continuarem vivendo, irem em frente, para o dia seguinte, como se ainda fosse viver por séculos, então viverá corretamente. Mas quando fica com medo, quando não olha adiante, olha para trás, choca-se, pára, e morre antes do tempo.
Mas quando vive olhando em frente, para a grande aventura à frente, então vive, e trata-se do que o inconsciente quer fazer. Claro que é óbvio que todos iremos morrer, que é um triste ‘finale’ de tudo, mas, mesmo assim, há algo dentro de nós que não acredita nisso, aparentemente. Mas isso é somente um fato, um fato fisiológico. Não significa para mim que algo está provado. É simplesmente assim.
Por exemplo, posso não saber porque precisamos de sal, mas preferimos comer sal também, porque nos faz sentir bem. E pensando de certa maneira, você realmente se sente melhor. E se você pensar de acordo com as linhas da natureza, você pensa corretamente.
Seu André
Na foto acima, da esquerda pra direita: tio Chico, fiel escudeiro, e agachado está o meu vô André. A porta do meio é do quarto onde eu morei durante o período em que trabalhei na oficina. Antes de mim, era o tio Chico que morava ali.
Sempre penso na morte, não como quem deseja ou rejeita, mas penso como quem imagina o que tem depois. Se os que vão ficar vão sentir a minha falta, se vou antes dos que eu amo, se vou conseguir fazer tudo que eu quero. Não sei se tenho medo, eu respeito. Os dois homens mais importantes da minha vida já se foram, meu pai e meu vô. A tríade André pai, André filho (eu) e André avô.
Nos últimos dias de vida do Seu André, eu tive a impressão de que ele sabia que estava terminando a sua jornada e, apesar de todo o seu sofrimento, nunca vi ele reclamando de dor. Ele foi a primeira pessoa próxima e importante que eu perdi. Eu tinha 15 anos na época e foi, melhor dizendo, é bem triste entender isso até hoje. Fiz essa música na tentativa de imaginar algo positivo nessa despedida, ele reencontrando os pais que perdeu ainda jovem, como se houvesse uma outra dimensão, enfim.
Ouça agora Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung:
Frase a frase
Vou fazer o frase por frase da letra pra tentar mostrar a minha forma de raciocínio dentro dessa trama.
“Mecânica do amor”
Na idade que eu cheguei, assim dizer madura
na volta do hospital, depressa ao banheiro
Isso realmente aconteceu, mas não era um hospital, na verdade ele foi num benzedor que atendia por uma entidade chamada “Arranca Toco”. Meu vô não gostava de ir no hospital.
lá dentro eu chorei, tive que disfarçar
não sou mais um menino
meu tempo acabou, aventura terminou
O banheiro é um lugar de intimidade, é onde que a gente se vê na como realmente somos, a nossa natureza fica exposta, a gente se vê no espelho e tudo fica mais claro.
eu fui me despedir ligeiro e secreto
sem ver ninguém sofrer, dos filhos e dos netos
eu era tão feliz, mas tinha que aceitar
findou o meu tempo, foi bom poder sonhar
foi bom te conhecer
Não sei, mas parece que quando sentimos que estamos próximos à nossa morte, começamos a fazer o caminho de volta e vamos nos despedindo um a um de pessoas e lugares.
Do meio pro final da música…
Correr pelo jardim, eu era tão arteiro
brincar com meus irmãos, parei pra ir ao banheiro
lá dentro eu encontrei, quem hoje agora estou
no tempo abriu-se um feixe
eu era mais menino, do que um dia fui
Quando eu digo que no tempo abriu um feixe, é como se meu vô criança, ao se ver no espelho do banheiro, se visse agora adulto. E então essa criança percebe que aquele adulto é mais criança do que ela.
amigos visitei, alguns partiram antes
a minha rua observei, tão perto e distante
senti me desprender, a lágrima rolar
o vento soprou ligeiro, não pude acreditar
quando vi a minha mãezinha, ela veio me receber
meu pai pra variar, vai se atrasar
Ô mãe, lá vem o pai
Aqui uma ideia do ultimo suspiro de vida e, ao chegar “do outro lado”, um reencontro com a sua mãe que chega primeiro, como urgência e saudade, e com o pai, muito amoroso mas que se atrasa, repetindo o que foi em vida.
Impermanência
Quando uma fruta cai da árvore, na terra ela encontra o útero perfeito pra seguir a sua jornada. Não é um fim, é uma transformação. Assim somos nós: breves. E, ao mesmo tempo, eternos.
E foi isso, uma canção simples mas muito importante pra mim.
Eu sei que vou morrer, talvez ainda essa noite, mas o que realmente importa é o que acontece durante a nossa vida.
André Neto,
Porto Alegre, Outono de 2019.
Veja também:
- Mapa astral da música Mecânica do Amor feita pelo astrólogo Paulo Alonso
- Explicando a letra com André Neto
- Vídeo aula de como tocar no piano
Lançando o álbum Arquétipos – O encontro com a sombra
São 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, codificador da psicologia analítica. As composições falam sobre arquétipos, signos, símbolos e o encontro com as nossas sombras. Traçam a jornada do anti-herói no cotidiano, o inconsciente coletivo e a busca de si mesmo. Isso não é um conceito. É um enigma.
Ouça agora Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung:
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