Somos a Lítera, o segundo e o terceiro recomeço
Somos a Lítera, o segundo e o terceiro recomeço. Depois que decidi sair da Absolon, essa nova banda, ainda sem nome definido, era eu na voz, Rodrigo na guitarra, Rafael no baixo e Gabriel na bateria.
Numa reunião pra discutir o nome da banda, sugeri “Lithium”, por causa da música do Nirvana e por ser uma medicação recorrente no meu ambiente familiar (que anos mais tarde eu também consumiria). A internet ainda estava dando seus primeiros passos, mas já foi o suficiente pro “Google da época” informar que existiam centenas de bandas cover de Nirvana com o mesmo nome. Ok, vamos pensar em outro. Durante esse período, fazíamos em média um ou dois shows por ano, tocando pra públicos muito pequenos. Dois shows foram cancelados por falta de público.
Assim as coisas foram indo, até que novamente a banda se classificou para o Festival do Colégio São Francisco. Era a chance de alguma virada! Na semana do evento, pra fazer a inscrição, decidimos que o nome seria Lítera, como derivação de Lithium e por ser algo próximo à palavra “literal”, de ser literalmente tudo ou nada. Parecia o nome perfeito. Somos a Lítera! Nessa mesma semana, surge um novo revés: o baterista Gabriel anuncia sua saída da banda. Ele tinha conseguido um emprego no estúdio “Nas Nuvens”, do produtor Liminha no Rio De Janeiro, e não teria mais como seguir com a gente. Era uma oportunidade irrecusável, a gente sabia disso, mas lembro que a notícia caiu como uma bomba. Estávamos felizes por ele, mas tristes por perder o baterista.
DIÁRIO GAÚCHO
O Gabriel era o baterista perfeito, era sobrinho do Guedes, dono no estúdio onde aconteciam os ensaios e as sessões de pré-produção do disco que estava por vir. O jeito como ele tocava bateria era ótimo pra banda, pra sonoridade que a gente buscava, então não tínhamos ideia de como e onde iríamos conseguir um novo batera. Fizemos o show no festival, fomos capa do Diário Gaúcho, jornal de maior circulação nas regiões periféricas. No dia seguinte, a banda não tinha mais baterista e estava novamente sem rumo. O Sarandi não dispunha de um catálogo de bateristas.
Mesmo que parecesse difícil ou desconfortável na hora, precisávamos recomeçar pela segunda vez. A essa altura a gente não queria sofrer de novo procurando alguém que não estivesse com a mesma entrega, com vontade de viver da sua música. Foi aí que o Rodrigo, mesmo sendo o melhor guitarrista que já tinha passado pela banda, decidiu aprender a tocar bateria e assumir as baquetas. Em seguida, o baixista Rafael convidou um amigo de bairro, Thiago, que estava aprendendo a tocar guitarra, pra entrar na banda. A gente já conhecia ele e a escolha foi certeira.
GREEN DAY
Muita gente passou pela banda fazendo testes, até chegar na formação que parecia ideal: Rodrigo agora na bateria, Thiago na guitarra, Rafael no baixo, eu na voz e mais tarde voz e guitarra. Todos tinham uma ligação muito forte comigo: Rodrigo era casado com minha irmã, com quem já tinha um filho; Rafael era meu amigo, éramos fãs de punk rock e colegas no curso técnico de informática, na Escola Mesquita; e o Thiago tinha sido meu vizinho anos antes – na época, eu era amigo das irmãs do Thiago, tínhamos cinco anos de diferença. Eu era um adolescente com 15 anos e ele era uma criança voando de bicicleta pra cima e pra baixo com 10 anos. Acaso ou destino, a vida nos juntou novamente, eu na época com 23 e o Thiago com 18. E assim foi até as gravações do primeiro disco.
Parecia estar tudo bem, as coisas se encaminhando. Só que não. Tivemos uma nova baixa na banda: o Rafael, depois de uma discussão por email em que envolveu toda a banda, deixou a gente quando tínhamos três shows por fazer e um disco por gravar. Ninguém teve culpa, éramos jovens, pólvoras prontas pra estourar. Assuntos que hoje seriam facilmente contornados, mas na época não tínhamos maturidade pra resolver. Fim de mais um ciclo.
Às pressas, contamos com a ajuda de amigos pra terminarmos os compromissos. Voltamos a gravar e a Lítera se tornou pela primeira vez um trio. Eu até gostava da ideia. Nessa fase era fã de bandas que tinham power trio como formação, tipo o Green Day, que foi uma grande influência visual e estética para mim, que até hoje uso a correia da guitarra vermelha por causa do Billie Joe.