Meu pai, meu arquétipo. O que é ser pai?

Meu pai, meu arquétipo. O que é ser pai? Talvez seja uma questão que esteja muito presente na vida dos brasileiros nos últimos dias. Não devido ao dia dos pais, mas na visibilidade que os diferentes conceitos de paternidades ganharam.

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Entre ser o genitor e ser o educador de um filho, há muitas nuances. Tantas quantas as pessoas que passam por nossa vida e que de alguma forma exercem uma paternidade sobre nós.

Mas, para saber quem são os nossos pais, precisamos saber:

O que é ser pai?

E essa pergunta só pode ser respondida dentro de um contexto cultural. Para povos originários, como os indígenas brasileiros, a paternidade é exercida não apenas por uma pessoa, mas por diversas, pois o conceito de família está mais próxima do conceito de sociedade. Já a ideia de “família tradicional” (segundo qual tradição?) é uma espécie de reducionismo estrutural que sobrevive através do fracasso de não conseguir atender por completo as necessidades, tanto da maternidade quanto da paternidade, e indo além, da fraternidade.

Mas quero falar da paternidade.

O papel paterno é bastante recente na história da humanidade, muito mais recente que o papel materno, por exemplo. Pois a mãe assistia uma nova vida ser gerada e nascer de dentro de si. E este nascimento era desconexo com a relação sexual. Por este motivo, o poder sobre a origem e o destino das vidas era dado às mulheres.

Quando a humanidade entendeu que, era necessário o sêmen para a geração da vida, surgiu o papel paterno. O empoderamento sobre a vida gerada. O reconhecimento do poder criativo dentro de si. A participação no mundo divino pelos homens.

Porém, em algum momento da história, o excesso foi cometido.

Nesse excesso, não há paternidade sem o controle da geração da vida, sem o controle da atividade sexual, e sem o controle sobre as mulheres. Prova disso, foram as civilizações que afloraram enfatizando o poder de uma divindade masculina no céu, e a presença de um governante masculino na terra. O poder do homem sobreposto à mulher deu origem às diversas definições que reproduzimos como família tradicional.

E sempre que falamos do assunto, a palavra “controle” se torna implícita. O centro da família é o pai, o provedor, o fertilizador, o proprietário da esposa, dos filhos, amantes, bens, voz, e decisões. Inclusive o doador de seu sobrenome. Tudo se torna “posse” do pai. São heranças que ainda não soubemos lidar em nossa sociedade.

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Mas, apesar dessa herança, e da falta de habilidade de lidarmos com ela (vide polêmicas atuais a respeito da paternidade), vivemos a paternidade durante toda nossa vida.

Se eu te perguntar, quem foram seus pais, talvez a resposta seja óbvia. Mas se eu perguntar: quem foram as pessoas que te ensinaram a ser mais autônomo/a, independente? Que te ensinaram que há limites na vida, e que alguns deles podem ser ultrapassados, outros não? Que ensinaram que é importante ter responsabilidade? Ensinaram a saber e aceitar as consequências de suas escolhas? Quem foram estas pessoas?

Se eu te fizer estas perguntas, pode até ser possível que seu pai biológico não esteja na lista. Assim como, pode ser que apareçam mulheres nas respostas.

Não é?

Não quero com esse artigo fragilizar os homens. Nem mesmo sobrepor o papel feminino sobre o masculino. Quero justamente proporcionar aos homens a consciência de que é preciso rever seu papel na sociedade, pois o valor do poder e do controle sobre a família está desvalorizando vertiginosamente.

E qual será nosso lugar se não percebermos que precisamos oferecer mais autonomia, mais liberdade, mais consciência, mais responsabilidade, mais fraternidade, menos controle, menos submissão, menos imposição?

Qual será nosso lugar?

O que faremos, se não percebermos que somos todos pais de todas as crianças deste mundo? Que a paternidade é a entrega da semente e a confiança de um futuro com frutos sempre melhores do que fomos.

Urano, Cronos, Zeus, os patriarcas da mitologia grega, todos evitaram seus filhos pelo medo de serem superados por eles. Uma luta contra o tempo. O destino sempre se sobrepõe àqueles que tentam conter a onda, à força.

Saturno devorando um filho | Francisco de Goya, “Saturno devorando a su hijo” (1819-1823)

Então, o que é ser pai?

Se ainda não respondi, deixo que Saramago responda: “Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.”

Portanto, seja você, homem, mulher, criança, adulto, jovem, idoso/a, exerça sua paternidade, e aproveite este dia dedicado à paternidade para refletir em como o seu nome será levado pelas NOSSAS futuras gerações.
Feliz dia dos pais!

Dedicado a meu pai, Carlos.

Referências:
As máscaras de Deus: Mitologia primitiva — Joseph Campbell
O medo do feminino — Erich Neumann
Os parceiros invisíveis — John A. Sanford
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Paulo Alonso
@paulo.tarot

Ah, o @paulo.tarot é quem tira e interpreta as cartinhas do Tarot da Semana que sempre fazemos no https://www.instagram.com/literaoficial ! E ele está com uma campanha para lançar seu próximo livro de poesias sobre luzes e sombras, o “Estroma”. Bora apoiar? É só acessar apoia.se/estroma
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Arte também por @pauloalonso.arte 💜