Sobre a Novela Novo Mundo e o medo da…
A Rede Globo com a novela Novo Mundo mostra que é um atraso para a sociedade
Sobre a Novela Novo Mundo. Domitila e Leopoldina foram duas grandes mulheres com papéis fundamentais na sociedade. Não devem ser condenadas e nem vitimizadas. Na vida real, ninguém é 100% bom e ninguém é 100% ruim. Mas na novela Novo Mundo, essa polaridade e a competição entre as mulheres rende muita grana para a emissora que desde o seu surgimento apoiou visões políticas conservadoras, violentas e preconceituosas.
Enquanto americanos e europeus inventam antigas histórias de amor para roteirizarem os seus filmes, nós temos um caso real aqui no Brasil, mas que fica escondido e é desconhecido pela maioria da população, já que historiadores machistas não conseguem conviver com o fato de o imperador do país ter se apaixonado e dado tanto espaço a uma mulher vanguardista em diversos campos da sua vida. Colocam a Domitila debaixo do tapete, adotando a versão da história contada pelos Andradas e por todos os homens que se sentiram em algum momento afrontados pela Marquesa.
Lítera – Caso Real – Álbum Completo
O que Dom Pedro I e Domitila viveram foi por escolha, por afeto
A emissora, assim, só demonstra sua preguiça. É mais fácil e mais confortável romantizar o casamento do imperador – que foi feito por negócio – e taxar a amante de puta e destruidora de lares. O que Dom Pedro I e Domitila viveram foi por escolha, por afeto. Não designado, como aconteceu com a Leopoldina, que veio para o Brasil e se casou com o imperador por um acordo entre governos.
Vídeo: Leitura das cartas de despedida e Não aprendi dizer adeus
A Domitila é a nossa grande musa, mulher inspiradora, da qual tivemos o privilégio de conhecer a história e hoje cantamos sobre ela. Tudo o que estudamos para o disco Caso Real e o que seguimos lendo e aprendendo sobre ela nos ensina a ser melhores a cada dia. É uma mulher que viveu 79 anos, ajudou muito os estudantes, incentivava a cultura da época, promovia saraus literários na sua casa, rompia paradigmas colocados sobre as mulheres da época e falava sobre sexualidade feminina como ninguém ousava falar. Entretanto, carrega até hoje o estigma de ser amante do imperador, período que durou apenas 7 anos da sua longa e ativa vida.
Lítera – Domitila – Clipe Oficial
Domitila foi esfaqueada pelo seu primeiro marido
A gente pensava que estava fazendo um disco sobre uma história antiga, mas na verdade esse tema é atemporal. A Domitila foi esfaqueada pelo seu primeiro marido e o questionamento na época foi sobre o que ela tinha feito para que ele a machucasse dessa forma. E imaginem as caras de espanto e negação que surgiram quando ela decidiu se divorciar, em pleno século XIX. Para a sociedade, a errada era ela. Agora, há pouco tempo, em 2016, uma menina menor de idade foi estuprada por 33 homens e o julgamento da sociedade foi o mesmo. Não foram todos que entenderam que ela era a vítima de tudo isso. E o mais triste é que esse julgamento acontece o tempo todo.
O povo desconhece a história do seu país
O que a Globo está fazendo é um desserviço absurdo. Tudo bem não ter compromisso com a verdade, mas assuma. Inventar uma ficção em cima de algo real é natural e acontece o tempo todo, mas é perigoso e muito irresponsável fazê-lo quando o próprio povo desconhece a história do seu país, que é velada por aqueles que a registram. A caneta que escreve os livros de história está nas mãos de poucos – e eles são homens, ricos e brancos.
Experimentem digitar ”domitila” no google. Tirando a wikipédia, que foi escrita com a colaboração do Paulo Rezzutti (historiador e escritor da biografia “Domitila, a verdadeira história da Marquesa de Santos”), na primeira página só aparecem as péssimas referências feitas pela Globo. Fiquem atentos: o que está sendo exibido NÃO É A HISTÓRIA DA DOMITILA. É apenas mais um roteiro machista da Globo.
Qual é a vantagem que temos, enquanto sociedade, reverberando essas falácias? O momento é de mudança, é de abertura ao diálogo, mas a Globo, mais uma vez, não está acompanhando. Segue antiquada, atrasada, quadrada. Também não poderíamos esperar grande coisa de uma emissora que forja notícias, edita discursos/debates, manipula gráficos e carrega em sua história o apoio à ditadura militar.
Enquanto as novas gerações discutem séries revolucionárias, desconstroem padrões, lutam por direitos iguais e veem a pluralidade como diversidade – e não como diferença -, a Globo tenta transformar uma mulher que protagonizou a própria vida em vilã. E exibe, em paralelo, uma novela em que mulheres fazem denúncias falsas na delegacia da mulher. Que medo tão grande é esse que a Globo tem do novo?
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