Os crimes da Rua do Arvoredo: as linguiças de…
Os crimes da Rua do Arvoredo: as linguiças de carne humana. A Rua do Arvoredo, que deu origem à Rua Coronel Fernando Machado, ganhou notoriedade por um episódio insólito: o crime do século XIX, história macabra de um açougueiro que, auxiliado por sua mulher, esquartejava corpos humanos transformando-os em linguiça. Todos tem um lado sombrio que ao menor descuido ele se manifesta.
A Lítera é de Porto Alegre, gravamos nossos 3 álbuns nessa cidade, caminhamos por essas ruas praticamente todos os dias, é inevitável não pensar nos passos dessa história.
Foto do espetáculo O Linguiceiro da Rua do Arvoredo no Theatro São Pedro
Ouça agora Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung:
NOVO ÁLBUM DA LÍTERA
Talvez o primeiro serial killer da América Latina
O crime foi desvendado pelo cachorro farejador de um menino, vítima do açougueiro. O historiador Décio Freitas tratou do tema escrevendo o livro “O Maior Crime da Terra – O Açougue Humano da Rua do Arvoredo”. “Há um chacal adormecido em cada homem” – Charles Darwin escreveu em seu caderno de anotações um curto comentário sobre o canibalismo registrado em Porto Alegre.
Cúria Metropolitana de Porto Alegre erguida em cima do antigo cemitério e próximo aos locais dos assassinatos
José Ramos
José Ramos é certamente a personagem principal desta história hedionda. José era o filho mais velho de Manoel Ramos e Maria da Conceição. Manoel foi servidor de um esquadrão de cavalaria de Bento Gonçalves durante a Revolução Farroupilha. Todavia, desertou e fugiu para Santa Catarina, local onde fixou residência e onde José Ramos, seu filho, nasceu.
Era hábito do pai contar façanhas da revolução, ouvidas com admiração por Ramos.
Aqui, segundo a história, Ramos insistia ao pai que contasse amiúde as investidas do esquadrão ao toque de “degolar”, demonstrando especial interesse acerca dos detalhes empregados sobre modo de aplicar a degola.
Foto do espetáculo O Linguiceiro da Rua do Arvoredo no Theatro São Pedro
Na juventude, vendo sua mãe ser agredida pelo pai embriagado, José Ramos toma uma faca e projeta contra seu progenitor ferindo-o gravemente, levando-o à morte em poucos dias.
Esse episódio induz Ramos a retirar-se para a Província de São Pedro, onde se estabelece como soldado da Polícia, exercendo a função de maneira digna, até o dia que é flagrado tentando degolar um preso célebre de alcunha Campara, uma espécie de Robin Hood dos Pampas, sob o pretexto de que esse tentava fugir. Dada a repercussão, é exigida a baixa de Ramos, passando a servir como informante da Polícia, subordinado diretamente ao Chefe de Polícia, o delegado Dário Callado, por quem, mais tarde, seria preso.
Diz-se de Ramos que era um sujeito mestiço claro, olhos enormes, voz sinistra, barba rala, alto e de extraordinária força física e sempre exageradamente perfumado. Vestia-se de maneira impecável e possuía razoável nível de instrução.
Homem religioso e sensível, Ramos ia à missa, e demonstrava grande interesse pelas artes.
Frequentava a mais alta classe de Porto Alegre, sendo conhecido em eventos de alto luxo e sofisticação, como apresentações teatrais, óperas, além de ser um frequentador assíduo do recém-inaugurado Theatro São Pedro. Também foi na capital gaúcha que o mesmo encontrou e se apaixonou por Catarina Palse.
Theatro São Pedro em 1860
Acredita-se que José Ramos detinha uma fascinação pelo “ato da degola”, ou seja, o mesmo teria aprendido esta prática com seu pai que provavelmente lutou na guerra, devido a isso todos os seus homicídios consistem neste ato, isto é, Ramos pode ser taxado como louco, psicopata, doente, assassino, entre inúmeros outros nomes dados como justificativa para tais acontecimentos, porém o mesmo possuía amplo conhecimento perante seus atos o que indica que não retinha nenhum, aparentemente, distúrbio mental, fato este que não consta em documentos da época, devido a isto a análise relativa ao que verdadeiramente motivava José a cometer seus homicídios encontra- se como um enigma que possivelmente nem o próprio Ramos saberia explicar e até mesmo convencer alguém de que seus crimes eram válidos.
Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, fundador da psicologia analítica.
Catarina Palsen
Catarina Palsen, embora não seja a “personagem principal”, é elemento não menos importante, pois foi cúmplice de José Ramos, seja por atrair as vítimas para sua residência ou, simplesmente, pela omissão, acobertando os crimes do marido.
Catarina Palsen interpretada no cinema
Catarina Palsen era de origem Húngara, viera da Transilvânia para escapar da miséria. Catarina teve a família assassinada e foi estuprada por soldados durante a revolução húngara contra a Áustria.
Catarina tinha origem Húngara, mas era etnicamente alemã, em razão de fazer parte de uma minoria alemã que povoou o território da Transilvânia que posteriormente constituiu aquele País. Filha de artesão, de família pobre, morava em uma aldeia com os pais e dois irmãos. Catarina teve a família assassinada e foi estuprada e abandonada inconsciente por soldados durante a revolução húngara contra a Áustria.
Aos 15 anos, casa-se com Peter Palsen, um cardador de lã. Posteriormente, aconselhados pelos pastores protestantes, emigram para o Brasil, a fim fugir da miséria em que viviam. No decorrer da viagem, o marido de Catarina se suicida por estrangulamento.
Anos 40, Cúria Metropolitana de Porto Alegre erguida em cima do antigo cemitério e próximo aos locais dos assassinatos
Em 1857, com 20 anos e solitária, Catarina chegou à capital gaúcha. Cinco anos depois, começou a se envolver com José Ramos e, em 1863, começaram a viver juntos na denominada Rua do Arvoredo (atual Rua Fernando Machado), lugar próximo a um cemitério que se encontrava nos fundos da chamada Catedral Metropolitana de Porto Alegre.
Catedral Metropolitana de Porto Alegre, início do século 20
Embora muito se fale que Catarina era mulher de beleza exuberante, não há qualquer indício que confirme esta afirmação. Segundo Jean Pierre Caillois (conforme descreve Décio Freitas em sua Obra O maior crime da Terra),
“… é inteiramente desprovida de dotes físicos e mal se pode acreditar que exerce atração. Baixa e obesa, só tem de belos os longos cabelos loiros e os olhos muito azuis”.
Arquétipos – O encontro com a sombra é um disco diferente: são 12 canções baseadas nos sonhos, estudos e memórias de C. G. Jung, fundador da psicologia analítica.
Carlos Claussner
O terceiro personagem, Carlos Claussner, é elemento importante na história, mas, ao mesmo tempo, ao final, se torna vítima das tramas de José Ramos e Catarina Palsen.
Claussner era proprietário de um açougue situado na Rua da Ponte, atrás a igreja das Dores. Claussner emigra para o Brasil em 1859 sob o conceito de “proprietário”, o que lhe conferia a distinção dos camponeses e artesãos, já que alguém nessa condição significava viver de rendimentos.
Porto Alegre, Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo) início século XX
Assim que chegou a Porto Alegre, estabeleceu o mencionado açougue. Isto, segundo a história, remete a verificar que trouxe consigo alguma riqueza. Em face da localização, Claussner prospera subitamente, já que as senhoras, ao saírem da missa, ordenavam os escravos que fossem ao açougue do alemão para comprar carne.
Porto Alegre, Rua Fernando Machado (antiga Rua do Arvoredo) século XIX
O Alemão tornou-se amigo de Ramos porque vivia solitário e também porque o Chacal dominava o seu idioma, o que levava os dois a conversar, diariamente, durante longo período, em alemão, no interior do açougue. Logo Ramos tornou-se ajudante de Claussner, com quem aprende o ofício. Claussner frequentava com relativa assiduidade a residência de Ramos.
Os açougueiros, à época, provocavam asco à população, em razão de empunharem instrumentos de corte, esquartejando carne e sempre estarem sujos de sangue. Claussner, além da aparência sinistra, exibia uma cicatriz em seu rosto que lhe emprestava um aspecto perverso.
Dr. Dario Rafael Callado – Chefe de Polícia
O Chefe de Polícia, Dr. Dario Rafael Callado, homem influente da Província de São Pedro, teve papel destacado nos fatos sucedidos na Rua do Arvoredo, já que, José Ramos era um de seus homens de confiança, subvencionado para trabalhar em missões secretas. Ramos espreitava algumas pessoas, especialmente, políticos, por determinação do Chefe de Polícia.
Tradicional caminhadas de Porto Alegre Mal Assombrada, conduzida pelo vocalista e compositor André Neto da banda Lítera
O Chefe de Polícia era uma das autoridades mais conhecidas na Província. Nordestino, pois a corte sempre designava pessoas de outras regiões para esse cargo, era magro, porém muito forte, de pele escura escarmentada pelo sol e olhos de pupilas negras que fulgiam a ardileza e dissimulação.
Dario Callado tinha enorme poder na Província. Era diligente com suas atividades, mas, também conhecido como pessoa de humor instável e escrúpulo obscuro. Não raro, era alvo de críticas do deputado Silveira Martins que usava a tribuna para denunciar os seus desmandos.
Casa de Correção, cadeia que recebeu os primeiros presos em 1855 e foi demolida em 1962
Prisões ilegais, como por exemplo, a de um homem detido por assoviar durante um espetáculo no Theatro São Pedro, a prisão de um comerciante que lhe negou cumprimento numa recepção, espancamentos de escravos e de presos, dentre outras atitudes hostis.
Consta, porém, que de todas as histórias de Dario Callado, era dado aos prazeres mundanos. Eram comuns os seus galanteios fracassados, sobretudo as atrizes de teatro, que carregavam a reputação de serem libertinas.
O Chefe de Polícia cortejava-as esperando conseguir favores sexuais dessas.
Livro O Maior Crime da Terra de Décio Freitas
Outro episódio marcante foi quando o chefe de Polícia reuniu as evidências dos assassinatos. Os indícios se deram por meio de identificação dos pertences das vitimas, conservado-os por Ramos como souvenirs.
Dario Callado oscilou entre satisfeito e receoso, porque, se por um lado resolvia o caso dos desaparecimentos, por outro, o tirano cruel e impiedoso era um de seus informantes assalariados.
Gostaria que assunto permanecesse em sigilo, todavia, estava ciente de que seria impossível, pois havia muitas pessoas envolvidas. Além disso, as evidências eram conclusivas e indicavam que os corpos despegados foram transformados em linguiça.
Cadeia Pública século 19, local onde ficou preso José Ramos
O Exercício concomitante das funções de Chefe de Polícia e Juiz de Direito que era autorizado em algumas províncias, lhe permitiu que surgissem revelações embaraçosas sobre seus vínculos com José Ramos. Acuado, imprimiu celeridade jamais vista ao inquérito policial e cumprimento das funções judiciais.
O Doutor Juiz de Direito Dario Callado pronunciou a sentença e José Ramos como no incurso nas penas do crime de latrocínio, que não importa necessariamente na punição de pena de morte. Diz-se ainda que, por negligência ou simplesmente, por descuido, os autos que versam sobre a fabricação de linguiça de carne humana desapareceram do processo.
Manuscrito policial dos crimes
O momento na história
Estamos em 1864, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Um comerciante português chamado Januário e seu caixeiro, José Ignacio de Souza Ávila, haviam desaparecido. Os vizinhos do casal haviam presenciado o português Januário e seu caixeiro com José Ramos um dia antes do desaparecimento.
A partir do momento em que esse fato ocorreu, no outro dia Ramos recebeu uma intimação para que explicasse esse mistério. Porém, ao chegar à delegacia, o acusado não revelou o que realmente tinha ocorrido, mas alegou que os desaparecidos teriam embarcado para o Caí.
José Ramos e Catarina Palsen em uma representação teatral
Ao final do depoimento dado por José Ramos, o chefe de polícia, Dário Rafael Callado, não se convenceu da “história” contada por Ramos, e então decidiu investigá-lo.
No dia 18 de abril, a polícia de Porto Alegre buscou provas na residência de José Ramos e deparou-se com uma cena de crime horripilante: no porão da casa de José Ramos e Catarina Palsen, na Rua dos Arvoredos, estavam enterrados os pedaços de um corpo humano, já em avançado estado de decomposição. A vítima foi identificada: era o alemão Carlos Claussner, dono de um açougue na Rua da Ponte.
Ao examinar um poço desativado, no terreno dos fundos da casa, a polícia encontrou os corpos do taverneiro Januário Martins Ramos da Silva e de seu caixeiro, José Ignacio de Souza Ávila, de apenas 14 anos, igualmente esquartejados. As buscas no poço prosseguiram, tendo a polícia encontrado ainda o cadáver de um cachorrinho preto, rasgado da garganta ao ventre.
Tradicional caminhadas de Porto Alegre Mal Assombrada, conduzida pelo vocalista e compositor André Neto da banda Lítera
Cólera
No ano de 1855, irrompeu na cidade uma epidemia muito grave que acabou ceifando 1.400 vidas, a mesma epidemia voltou dez anos depois, mas o numero de mortes foi muito menor.
A partir de então, o comercio e consequentemente a economia cresceram e se intensificaram, instalando-se na região diversos restaurantes, pensões, variados estabelecimentos comerciais, alambiques e pequenas manufaturas, também o numero de imigrantes alemães cresceu de uma forma marcante.
Lítera – Sagrado Coração de Marcelo Lucídio | performance Diego Bittencourt
Em torno de 1860, Porto Alegre já era a quarta maior cidade do Brasil, tinha cerca de vinte mil habitantes, dos quais pelos menos três mil eram alemães e muitos deles possuíam propriedades comerciais na rua até então chamada Rua do Arvoredo, possuía um total de quatro mil casas, 18 edifícios públicos e sete Igrejas.
No período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguai transformou a capital gaucha na cidade mais próxima da guerra, a mesma recebeu dinheiro do governo central, novos estaleiros, serviços telegráficos , quartéis e melhorias na área portuária.
Na parte mais estrutural da nossa cidade, no ano de 1872 entraram em circulação as primeiras linhas do bonde, em 1874 foi concluída a ferrovia que une Porto Alegre e Novo Hamburgo e foi inaugurada a iluminação a gás de carvão e ate 1870 o abastecimento de água foi melhorado, isso graças a edificação da canalização, já o sistema de esgoto apenas começou a ser implantado no final desse século.
Nesse século o Neoclassicismo tornou-se uma influencia muito marcante e junto com o antigo colonial originaram varias soluções ecléticas que iriam dominar o panorama até a década de 1930, o prédio que mostra exatamente um perfil neoclássico é o prédio da Cúria Metropolitana (como mostra a imagem acima), construído a partir de 1865 e caracterizado pelo seu majestoso conjunto de dimensões palacianas.
A motivação dos crimes
A motivação dos crimes era evidente: José Ramos e Catarina Palsen mataram para se apossar dos bens de suas vítimas, com exceção do caixeiro e do cãozinho, que foram mortos como queima de arquivo.
O diário de Catarina foi o ponto de partida para a investigação das demais mortes. Catarina Palsen, pressionada e tomada de remorso após a prisão de José Ramos, confessou à polícia que ali, naquele local, haviam sido mortas seis pessoas, que foram transformadas em linguiça pelo açougueiro Carlos Claussner.
Fernando Machado (antiga Rua do Arvoredo) esquina Borges de Medeiros
Segundo os autos, cabia a Catarina atrair as vítimas, geralmente abordadas no Beco da Ópera, onde, nos dias de hoje, localiza-se a Rua Uruguai. Catarina levava as vítimas por becos escuros e ladeiras para um sobrado que ficava atrás da antiga Matriz.
Em 1794, nesse beco, foi erguido um barracão de madeira para servir de teatro. Ele foi chamado, primeiro, de Casa da Comédia e, depois, pomposamente, de Casa da Ópera. Popularmente, a rua passou a ser chamada de Beco ou Rua da Casa da Ópera.
Na casa do casal, as vítimas eram degoladas, esquartejadas e descarnadas. Toda essa carne era transformada na linguiça vendida no açougue de Carlos Claussner, que ficava na Rua da Ponte (atual rua Riachuelo). Segundo os registros daquela época, a carne, além de muito bem aceita no comércio, era consumida, na grande maioria, pela alta burguesia de Porto Alegre.
Consta que Claussner foi o “mentor” da fabricação de linguiça das vitimas de Ramos, tendo dito a José Ramos que esta seria a melhor maneira de impedir que os assassinatos fossem descobertos.
Ou seja, esquartejando os cadáveres e os transformando em linguiça, e os ossos colocados em ácido para dissolverem ou incinerados no açougue, eliminando, dessa forma, as possíveis evidências dos crimes.
O delegado se viu em uma situação complicada, pois, por um lado, resolvia o caso dos desaparecimentos, por outro, o acusado era um de seus informantes assalariados. Além disso, as evidências eram conclusivas e indicavam que os corpos despegados foram transformados em linguiça.
Na época, o delegado exercia concomitantemente as funções de Chefe de Polícia e Juiz de Direito, o que era autorizado em algumas províncias. Isso permitiu que não surgissem revelações embaraçosas sobre seus vínculos com José Ramos. Acuado, imprimiu celeridade jamais vista ao inquérito policial e cumprimento das funções judiciais.
O Doutor Juiz de Direito Dario Callado pronunciou a sentença e José Ramos foi incurso nas penas do crime de latrocínio, sendo condenado à pena de morte por enforcamento pelos seus crimes – depois comutada à prisão perpétua. Catarina acabou sendo presa como cúmplice, condenada a 13 anos de prisão, morrendo anos depois em um hospício e enterrada como indigente.
Charles Robert Darwin, foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico, célebre por seus avanços sobre evolução nas ciências biológicas
Boatos dizem que o caso de José Ramos chamou atenção do mundo inteiro e que até mesmo Charles Darwin, autor da teoria da evolução das espécies, tomou conhecimento dos crimes e escreveu em Londres sobre o caso:
“Informa-se que no extremo meridional do Brasil, em uma cidade chamada Porto Alegre, um grupo de perversos matou várias pessoas, usando sua carne para fazer linguiça, que não só comeram como induziram os habitantes a comê-la. O temor de que a humanidade perca sua posição nobre e volte à bestialidade é infundado. Regressões ocasionais sempre ocorrerão. Há chacais adormecidos em cada homem”.
teatro – O Linguiceiro da Rua do Arvoredo
O processo dos crimes da Rua do Arvoredo encontra-se hoje guardado no Arquivo Nacional (RJ), apesar da crença generalizada no sumiço dos papéis. Segundo o historiador Décio Freitas, autor do livro O maior crime da Terra (Editora Sulina, 1996), os processos estão incompletos, são todos manuscritos e de difícil compreensão, o que torna a investigação do texto uma tarefa árdua. Portanto, jamais se saberá se a história é completamente verdadeira.
Processos Criminais de José Ramos e Catarina Pause
Os vizinhos do casal haviam presenciado o português Januário e seu caixeiro com José Ramos um dia antes do desaparecimento dos mesmos. A partir do momento em que esse fato ocorreu (em 1864), no outro dia Ramos recebeu uma intimação para que explicasse esse mistério. Porém, ao chegar à delegacia, o acusado não revelou o que realmente tinha ocorrido, mas alegou que os desaparecidos teriam embarcado para o Caí.
Ao final do depoimento dado por José Ramos, o chefe de polícia, Dário Rafael Callado, não se convenceu da “história” contada por Ramos, e então decidiu investigá-lo. Como resultado, a polícia encontrou provas de que Ramos foi o verdadeiro assassino e que sua esposa, Catarina Pause, era a sua cúmplice.
Assinatura de José Ramos
José Ramos e Catarina Pause foram presos em sua casa no dia 18 de abril de 1864, na antiga Rua do Arvoredo e atual Rua Fernando Machado. Porém, não se sabe ao certo se o casal tenha recebido alguma condenação, mas sabemos através da “lenda” que José Ramos recebeu a pena de morte na forca, mas como a pena foi comutada, foi decidida então a prisão perpétua com trabalho e, Catarina foi acusada como cúmplice e recebeu pena de 13 anos e 4 meses de prisão, com trabalho. E, que os condenados cumpriram as penas em um presídio próximo à Praça da Harmonia.
Jornal da época noticiando os crimes da Rua do Arvoredo
Decorrido um século após os crimes, ainda continuam os mistérios de três processos criminais desaparecidos em 1998. Segundo a pesquisa feita pela universitária Cristina Fuentes Hamerski, “O primeiro processo versou sobre o assassinato do português Januário e seu caixeiro. O segundo se deteve no assassinato do açougueiro Carlos Claussner, e o terceiro trazia em seu bojo o caso onde os assassinos teriam usado a carne humana para fabricar linguiças e comercializá-las para a população local“.
andré neto – sal grosso {sinfonia – álbum completo}
Ouça esse álbum com fones de ouvidos e feche os olhos. Imagine: Porto Alegre, 1863. Uma cidade extremamente provinciana mas caprichosa. A história que aqui será contada é baseada em fatos reais e se refere ao primeiro serial killer das Américas, José Ramos, e à sua cúmplice e companheira Catarina Palse.
“Existem duas hipóteses, que causam controvérsias, mas podem levar a alguma pista do paradeiro da parte principal do processo. A primeira hipótese seria de que em 1972, o Arquivo Público queria abrir espaço e começou a se desfazer de parte da documentação e, a segunda hipótese seria a de que o documento saiu por vias ilegais, provavelmente através dos funcionários do local.”
Nota policial da soltura de Catharina Palse no jornal A Federação
Detalhe do Relatório do Presidente da Província do Rio Grande do Sul do ano de 1864.
Rua do Arvoredo
Com a designação de Rua do Arvoredo, foi uma das primeiras ruas dos tempos da vila de Porto Alegre. Em 1788 encontra-se registrada a escritura pública de compra e venda, relativa a uma “casa e cozinha de palha”, fazendo frente “para a rua direita que sai da Matriz” e “fundos para a rua do Arvoredo”, fato que assinala a existência de moradores, de condição modesta, já no século XVIII.
Fernando Machado, final do século XIX
Em 1843, os vereadores determinaram a execução de calçadas aos proprietários da Rua do Arvoredo. Em 1851, a Câmara autorizou seu procurador a fazer um cano de tábuas nos fundos do quintal do Palácio para canalizar as águas que desciam do morro, ali colocando de 20 a 40 carroçadas de aterro, “a fim de dar trânsito àquele lugar”.
Dois anos depois, obras são realizadas na Rua do Arvoredo, desde a Rua de Belas (atual General Auto), até o Alto da Bronze (atual Praça General Osório), “onde proximamente se acabou de abrir a dita rua”. Embora constando aberta até a Rua General Vasco Alves na planta oficial de 1839, o trecho imediato ao Alto da Bronze talvez se conservasse ainda irregular e intransitável.
LÍTERA – Mais Ainda // (Session Europa)
O local
O local exato onde ocorreram os crimes foi na rua do arvoredo, atualmente chamada de Rua Coronel Fernando Machado ( nome dado no ano de 1870) , começa na Rua General Vasco Alves e termina na Rua Coronel Genuíno, a mesma ganhou notoriedade depois do episodio insólito, o maior crime que esta cidade já teria presenciado ate então, com a designação do seu primeiro nome ela foi uma das primeiras ruas da cidade ainda quando a mesma não era vista como cidade mais apenas como uma vila, encontramos o primeiro registro datado no ano de 1788, o qual mostra a escritura publica de compra e venda, relativa a uma “casa e cozinha de palha” que fazia frente com a rua direita que sai da Matriz e fundos para a Rua do Arvoredo, o que afirma a existência de moradores já no século XVIII.
A Rua do Arvoredo no século XIX, sugerido por alguns historiados como essa casa em frente a um poço, o local dos crimes
A Rua do Arvoredo no século XIX era moradia de pessoas de media e baixa renda, composta por residências e pequenos estabelecimentos comerciais que em muitos casos eram propriedades de imigrantes e também o local menos esperado para que um latrocínio como o que ocorreu acontecesse.
Foi no ano de 1864 que as autoridades descobriram os assassinatos cometidos por um morador da Rua do Arvoredo e da sua esposa, que fisgava as vitimas no Beco da Ópera (atualmente a Rua Uruguai), os levava pelo velho beco do poço ate a rua da igreja (atual Rua Duque de Caxias) e por fim até a casa deles, um sobrado que ficava atrás da antiga matriz, aonde ainda nessa época existia o cemitério da cidade e atualmente reside a Catedral.
Rua da igreja (atual Rua Duque de Caxias) em 1881
Segundo a lenda para poder desaparecer os corpos, se fazia dos mesmos linguiças, a pessoa encarregada disso era Carlos Claussner que vendia a linguiça na Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo).
Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo) no século 19
Canibalismo
O canibalismo existiu ao longo da história da humanidade, sendo uma prática religiosa ou de costumes primitivos de diferentes motivações e características de cada época.
A existência de tribos canibais na América foi uma questão presente durante o processo de colonização europeia. Os colonizadores achavam uma prática selvagem que deveria ser extinta da cultura humana.
O canibalismo é um dos assuntos mais polêmicos em muitas discussões, e por isso alguns autores e diretores criaram obras fictícias para abordar o assunto, como no caso do filme, triologia, “O Dr. Hannibal” onde conta a história de um jovem que sofreu traumas e virou um temido canibal.
O canibalismo volta a ser discutido quando há o aparecimento de psicopatas e seriais killers que cometem crimes absurdos e muito violentos. Como no caso dos Crimes da Rua do Arvoredo, onde José Ramos e sua mulher Catarina Palse matavam pessoas e faziam linguiça com a carne humana, induzindo a população a comer.
Charles Darwin
O biólogo pai da teoria da evolução das espécies, ficou sabendo do caso na Inglaterra e, segundo consta, escreveu sobre.
“Informa-se que no extremo meridional do Brasil, na cidade de Porto Alegre, um grupo de perversos matou várias pessoas usando sua carne para fazer linguiça, que não só comeram como induziram os habitantes a comê-la. O temor de que a humanidade perca a sua posição nobre e volte a bestialidade é infundado, mas regressões ocasionais sempre ocorreram. Há um chacal adormecido em cada homem”, comenta Darwin.
O curioso é que segundo relatos, nem José Ramos e nem Catarina Palsen comiam a linguiça. Essas brutalidades podem ter ocorrido por causa da violência amplamente praticada pelos contemporâneos de José Ramos na década de 1860, onde na mesma época estava tendo a Guerra do Paraguai. Guerra essa onde os gaúchos tiveram uma participação direta cometendo as maiores atrocidades, como saques, estupros, torturas e mortes extremamente brutais.
O ator Carmo Dalla Vecchia interpretando José Ramos programa Linha Direta Justiça, dramatizando o caso.
Quando descobriram sobre os crimes, os dois são levados a delegacia e Catarina movida talvez por medo ou remorso entrega todos os crimes de José Ramos, inclusive explicando que o fim dos corpos se davam na fabricação das linguiças, a sociedade reagiu revoltada e enojada sabendo que sem perceber foi transformada em canibal. Mas até hoje não se viu um documento concreto que comprove que as linguiças eram realmente feitas de carne humana.
Foi feito de tudo para acobertar o caso na época, pois os laudos que continham os relatos de Catarina e todas as referencias a carne de linguiça foram simplesmente perdidos e extraviados, os únicos registros são do próprio diário da mesma, que também foi perdido. A imprensa brasileira pouco disse sobre o assunto, tendo mais destaque em jornais franceses e uruguaios, até chegar ao ouvido de Charles Darwin.
Linha Direta Justiça: Os crimes da Rua do Arvoredo – 28/04/2006
Repercussão do caso
Na Europa, a repercussão do crime foi tão grande, que quando Charles Darwin teve conhecimento escreveu em seu caderno de anotações um curto comentário sobre o caso em Porto Alegre se questionando: “Se existe um chacal adormecido em cada homem?”.
Em 1987, o caso inspirou a publicação do livro Cães da província, de Luiz Antônio de Assis Brasil. O livro conta a biografia do escritor dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Corpo Santo. Junto com esta narrativa, Assis Brasil também incluiu paralelamente em sua história os crimes da Rua do Arvoredo. O livro foi republicado em 2010 pela editora L&PM Editores.
Em 1996, o historiador Décio Freitas publicou o livro O Maior Crime da Terra – O Açougue Humano da Rua do Arvoredo, pela Editora Sulina, após uma pesquisa aprofundada sobre o assunto.
Posteriormente, em 2005, a história dos crimes da Rua do Arvoredo inspiraria também o romance do escritor David Coimbra, Canibais: Paixão e Morte na Rua do Arvoredo, publicado pela editora L&PM Editores.
No Rio Grande do Sul, o grupo RBS – afiliado da Rede Globo no estado – produziu um documentário sobre o caso. Um outro trabalho, feito de forma independente foi produzido.
Em 28 de abril de 2006, a Rede Globo apresentou um episódio do programa Linha Direta Justiça, dramatizando o caso. Os atores Carmo Dalla Vecchia e Natália Lage estavam no elenco do episódio do programa, como José Ramos e sua mulher Catarina. Como trilha sonora do episódio, foram incluídas algumas músicas do grupo inglês Radiohead.
Para reconstituir o crime, os trabalhos de pesquisa da equipe do Linha Direta foram amplos. A produção buscou informações nos arquivos públicos do Rio de Janeiro e de Porto Alegre e verificou desde recibos da época e os passaportes de Palsen e Classner, até as autópsias dos corpos das vítimas.
FREITAS, Décio. O maior crime da Terra – O açougue humano da Rua do Arvoredo (1863-1864). Editora Sulina, RS, 1996.
Andressa Guedes – texto sobre o canalibalismo
Disponível em: http://crimesdaruadoarvoredo.blogspot.com.br/. Acesso em 05 julho. 2020.
Disponível em: http://oscrimesdaruadoarvoredo.blogspot.com.br/. Acesso em 05 julho. 2020.
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